sábado, 1 de outubro de 2011

Cristóvão Buarque, Políticos e Educação

Recebi um email solicitando que divulgue, como forma de mobilização social, o Projeto de Lei do Senado Nº 480 de 2007, de autoria do Senador Cristóvão Buarque, que, pasmem, determina a obrigatoriedade de os agentes públicos eleitos matricularem seus filhos e demais dependentes em escolas públicas até 2014.

A ideia, à primeira vista e para quem analisa somente a intenção desta proposta estapafúrdia, pode parecer até louvável, sobretudo pela incapacidade dos gestores públicos em prover a infraestutura em adequada, que todos brasileiros desejamos pelo volume impostos que pagamos. Entretanto, ela não resiste a mínima análise com um pouco menos de paixão, um mínimo de bom-senso ou sob a ótica dos direitos republicanos e constitucionais.

Emito e justifico aqui minha opinião acerca deste atentado ao bom-senso, aos direitos individuais e à própria lei, que, ao contrário de ser inteligente ou produzir os resultados que se imagina dela, só serve para mais um político fazer proselitismo. Sempre respeitei e admirei o Senador Cristóvão Buarque pela sua defesa da educação, mas este absurdo projeto de Lei não condiz com sua capacidade intelectual, formação acadêmica e cultural, conhecimento jurídico, defesa da democracia e das liberdades individuais. É um menosprezo à capacidade de pensar de pessoas de bom-senso.

Detive-me, então, a justificar com mais detalhe minha posição pelo caráter importante deste email, e do próprio projeto de lei, pois entendo que os ditos 'formadores de opinião' precisam pensar melhor nas decisões que tomam e nas bandeiras que levantam, pois uma das causas de termos tantos políticos incompetentes é o fato de vivermos em uma sociedade inculta e desinformada, que compra bobagens e vende como verdade. Que compra conceitos absurdos e vende com a salvação do país. Como massa não tem inteligência, massa tem força, ela acaba por seguir quem tem inteligência e/ou habilidade para convencê-la. Podemos escolher não ser massa, mas quem a conduz, mobiliza ou mesmo quer fazê-lo, precisamos utilizar de um mínimo de bom-senso e seguindo o que preconiza a lei e os direitos individuais. Felizmente acabaram-se os caudilhos, os donos da verdade e do poder. Não precisamos de novos líderes, mas pessoas que saibam o que defendem e porque defendem, que entendem daquilo que dizem. Que defendam conceitos que efetivamente melhore a sociedade, mas com ideias e propostas inteligentes, que tenham possibilidade de implantação e, fundamentalmente, não atentem ao inalienável direito de sermos livres. Pagamos caro por estarmos permanentemente seguindo líderes hábeis e comunicar, mas sem conteúdo a ser comunicado. Que habilmente falam o que soa bem aos ouvidos de uma sociedade tão carente de serviços decentes quanto de um melhor aprofundamento intelectual, cultural e ético. Muitas estão gritando, acreditando defender um país melhor, mas na prática, só gerem discursos vazios, sem nenhum conteúdo e resultado prático. Tanto esforço, tanta energia desperdiçada na defesa de ideias inconsistentes e descabidas que, no fim, são rejeitadas pela própria sociedade que a produz. Os exemplos se proliferem. E este é mais um.

Cabe aqui algumas considerações sobre a questão:

1. Em primeiro lugar, a projeto de lei opõe-se diretamente aos direitos individuais, no caso, o de livre escolha (na minha opinião, intocável), defendido por todas as sociedades livres e democráticas ao redor do mundo, e muitas vezes obtidas à custa de guerras e morte de seus defensores, e felizmente preconizado na Constituição de 88. O Artigo 23 inciso 3 da Declaração Universal dos direito dos homens preconiza que "Aos pais pertence a prioridade do direito de escolher o gênero de educação a dar aos filhos", portanto, o direito de os pais criarem e educarem os seus filhos é um direito natural fundamental e inalienável. Este direito foi estabelecido na Lei de Diretrizes e Bases da Educação (Lei Nº 4.024/61) no TÍTULO II - Parágrafo único: À família cabe escolher o gênero de educação que deve dar a seus filhos, que embora revogada pela Lei 9.394/96, que trata da educação de uma forma mais abrangente, não tendo este e outros artigos dos direitos especificos incuídos. A Constituição Federal define no Art. 205 que "A educação, direito de todos e dever do Estado e da família (observa-se: da FAMÍLIA, não do pai ou da mãe individualmente), será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho". Nota-se que embora em alguns casos não seja explícito, o conceito da responsabilidade e direito dos pais de escolherem a educação de seus filhos fica subliminar ao espírito de todas as leis, pois tendo em vista que a tutela dos pais (pai e mãe) estabelecida pelo preceito constitucional do pátrio poder incorre na responsabilidade e obrigação dos mesmos em zelar pelo melhor para seus filhos, também lhes é, e deve ser, permitido o direito de livre escolha do quem entendem ser o melhor para seus filhos, não podendo o Estado, a despeito de sua atribuição profissional, condição social, política, religiosa ou mediante qualquer outra condição estabelecida ou suposta, impedi-los disso. Isso se torna ainda mais absurdo se levarmos em conta que a razão de tirar dos pais este direito, ou seja, a escolha de representar a sociedade através de um processo eletivo, reforçado com o discutível, se não risível, argumento de que os filhos de agentes públicos estudando em escolas públicas acarretariam melhoria na educação. Quem pensa isso pode não gostar de políticos, o que também é meu caso, mas definitivamente não entende nada do sistema educacional e de seus problemas.

2. Estabeler este regramento legal, impondo que filhos de políticos tenham que estudar em escolas públicas, abre inúmeros precedentes, cuja lógica estúpida e absurda é a mesma. A exemplo disso, poderiam os Dom Quixotes da solução social propor leis obrigando agentes públicos a não andar mais em seus próprios veículos, mas somente em transporte público, para que tenhamos mais ônibus circulando, ou que nenhum agente público tenha plano de saúde e se utilizem obrigatoriamente do SUS para que melhore o atendimento nos hospitais ou mesmo que agentes políticos não possam trancar suas casas para melhorar a segurança pública. Embora estas ideias possam mexer com nosso imaginário, e até mesmo gostarmos dela, já que queremos punir todos os políticos de alguma forma, elas são tão estúpidas quanto quem poderia pensar em sua viabilidade prática ou legal, pois afronta bom-senso, os direitos individuais e a própria Lei.

3. Supondo os defensores desta lei, ou mesmo seu propositor, resolva ampliá-la para os filhos de professores ou diretores de escola, afinal, eles também são responsáveis pela qualidade da educação. Escolas parecidas recebem verbas parecidas e os professores tem o mesmo salário e, mesmo assim, percebemos que as escolas têm infreastrutras diferentes e diferentes resultados no aprendizado, o que deriva também, da competência dos diretores e dos professores. Iríamos defender esta mesma proposição? Os filhos dos professores e diretores deveriam ser obrigados a estudar nas escolas que seus pais dirigem ou onde seus pais dão aula? Bem, quem não for a favor disse, defende a proposta por ser contra os políticos e não por ser uma boa proposta, tendo em vista que a lógica é a mesma.

4. Supondo, o que é verdade na maioria dos casos, que efetivamente o aluno da escola pública conclua seu aprendizado com menos conhecimento ou habilidades que o aluno de escola particular, o que o filho de um agente público tem há ver com isso? Supondo novamente que, independente de um deles ser político, os pais tenham condição financeira para colocar seus filhos em uma escola privada, porque o aluno deveria ser obrigado a estudar onde não quer em função da condição de seus pais? Não seria como obrigar uma criança a fazer algo cuja atribuição dos seus pais seja o fator que define esta condição? Isso, por si só, já seria uma clara afronta ao Estatuto da Criança e adolescente, punir os filhos pelas escolhas dos pais.

O meu interesse em argumentar contra esta bobagem não tem há ver diretamente com ela, já que é óbvio que não vai ser aprovado, e se fosse seria facilmente derrubada por uma ADIN (Ação Direta de Inconstitucionalidade), mas com o conceito que está por trás dela. Teria outros argumentos para justificar e exemplificar minha estupefação frente a esta proposta ridícula, mas acredito que seja o suficiente. Entendo, como todos, que a educação precisa mudar, melhorar, e muito. Além de uma nova consciência da sociedade que educa da mesma forma e como os mesmos instrumentos e processos crianças com uma velocidade mental inigualavelmente superior a da minha avó, que passava quatro horas mexendo um taxo de goiabada, com quadro-negro, giz, classes e cadeiras, dispostos e usados da mesma forma que se fazia há mais de 100 anos, além da insuficiente e inadequada formação dos professores, cujo conhecimento técnico não é mais suficiente para entender a complexidade social do ambiente escolar, além da infreastrutura inadequada, com falta de equipamentos e instrumentos modernos de aprendizagem, além dos baixos salários, além de se colocar profissionais interessados, esforçados, que se qualificam e desejam uma educação melhor, no mesmo patamar dos relapsos e incompetentes, pois estes estão enfiados nos sindicatos, agitando suas bandeiras e ira contra toda e qualquer tipo de mudança que faça como que sejam identificados e melhor remunerados os bons, mesmo que haja inúmeras outras condições que colocam a educação brasileira entre as piores do mundo, entendo que a mudança passa, também, por decisões políticas e as decisões políticas são tomadas por desejo da sociedade que os elege. Porque, quando os CPERS/Sindicatos da vida se mobilizam para destruir propostas que efetivamente podem melhorar a educação, a sociedade se cala? Porque a sociedade compra como verdade os conceitos bradados aos gritos e panelaços por pessoas retrógradas e atrasadas, como a Sra. Rosane de Oliveira, Presidenta do CPERS/Sindicato, e sua claque de senhoras que já deveriam ter deixado a educação para quem verdadeiramente quer uma sociedade moderna, diferente, e que valorize os competentes, os interessados, os que buscam mais do que reclamar e ser contra?

A sociedade se não fosse trágica, seria engraçada. Senta-se em frente à televisão, comprando as verdades ditas pelo Willian Bonner e as defendem com se verdades fossem, reclamam da corrupção, arrumam bodes expiatórios para justificar sua inação, encontram seus culpados. No dia seguinte, subornam guardas no trânsito para não ser multados por suas infrações, não devolvem o troco dado a mais pelo caixa do supermercado, tem em suas estantes livros tomados emprestados e que nunca pensam em devolver, não avisam quando a conta do bar foi menor que seu consumo, param em fila dupla ou em vaga de deficiente com a desculpam que vai ser "rapidinho", ocupam duas vagas ao estacionar na rua, para ter mais espaço para sair sem manobrar, não se importando se está deixando sem vaga outro cidadão com o mesmo direito de estacionar, jogam lixo na rua, furam fila, aproveitando-se de um amigo que está mais a frente, e usam dos mesmos políticos que criticam quando tem a oportunidade de arrumar o "boquinha' para seu filho em algum órgão público, ou para que deem um jeitinho para resolver seu problema... Políticos são dignos e leais representantes da sociedade e de sua ética e comportamento. Não existe político decente de sociedade cujos valores são flexibilizados conforme seu interesse pessoal. A ética da política reflete a ética da sociedade. Nem mais, nem menos. Se queremos uma educação decente, precisamos de uma sociedade decente e não de ideias descabidas.

Embora aja pessoas (cujo adjetivo declino) que entendam que os direitos não devam ser para todos, e que não deveríamos ser iguais perante a Lei, me parece que é justamente isso que precisamos defender: que todos tenham os mesmo direitos, a mesma qualidade de educação, de saúde pública, de segurança. Eliminar direitos à liberdade como forma de punir serve para quem comete crimes. E é lá, na cadeia, que políticos corruptos devem estar. Mas sempre que alguma ideia para solucionar problemas sociais passam por eliminar direitos civis, sobretudo os ligados à liberdade, me dá arrepios, pois me remete ao fascismo, ao nazismo e ao comunismo, cujos resultados, até mesmo os que sequer sabem o que propõem ou defendem, conhecem.

terça-feira, 8 de março de 2011

Minha conversa com Deus

Ontem eu conversei com Deus. Diretamente com ele. Estava com muitos problemas e não conseguia encontrar uma saída por mais esforço que fizesse pensando nas soluções. Estava dia-a-dia me isolando mais da família e dos amigos, pois acreditava que as pessoas ora não me entendiam e ora me criticavam em demasia. Indignava-me com a falta de apoio de quem contava ou com a intromissão excessiva delas na minha vida. Resolvi rezar. Acredito em Deus, mas rezar era algo que fazia com rara frequência e também não tinha muita fé que isso me ajudaria, mas estava ficando sem opções para minha angústia e rezar naquela hora e pedir ajuda me pareceu uma boa alternativa. O silêncio da casa vazia e a luz tênue propiciavam um momento de reflexão espiritual. Iniciei minha oração com um pai nosso e declinei meu rosário de lamentações. De repente, do nada, a aparelho de som ligou sozinho. Levei um susto. Olhei para os lados para ver se alguém podia tê-lo feito com o controle remoto. Mas a casa estava vazia e o controle estava sobre o próprio equipamento. Então do dial começou a correr e as luzes verdes do mostrador numérico giravam a tal velocidade que mal dava para identificar os números. E foram aumentando. De repente pareciam somente uma sequência de quatro oitos piscando rapidamente. E pararam. Eram somente quatro oitos com o último separado por um ponto decimal. O display do FM jamais havia ficado daquela forma. O silêncio sepucral do ambiente foi tomado por uma música muito suave, mas intensa, profunda. O dial com seus oitos estáticos. Jamais ouvira melodia semelhante e não conseguia identificar nenhum instrumento. O volume da música foi baixando lentamente, até que ficasse vaga no fundo das caixas de som. Fiquei apavorado ao ouvir uma voz dizer meu nome. No início não acreditei no que ouvia e no que estava acontecendo. Olhei para os lados inúmeras vezes, tentando identificar alguém que pudesse estar me passando ou trote ou uma pegadinha. Nada.

Uma voz intensa, poderosa, afirmativa, mas agradável e convincente então me disse:

- Você estava falando comigo. Reclamando da sua vida. Eu resolvi vir aqui para ouvi-lo pessoalmente. Porém não gostaria que reclamasse, mas que apenas pedisse o que deseja, pois suas lamentações creio já tê-las ouvido todas.

Transtornado como me sentia, só podia estar tendo alucinações. Não estava.

Me senti estranho. De certa forma ridículo conversando com meu um aparelho de som. Mas nada mais me restava naquela situação senão sair correndo dali ou responder à voz que se dirigia a mim e obedecer à sua solicitação, quase em tom de ordem. Iniciei meus pedidos e a cada um a voz respondia com firmeza, mas suavidade: “Sim”. Estava mais calmo e passei a acreditar que Deus estava, mesmo, falando comigo. Não podia perder esta oportunidade de fazer todos os meus pedidos. E tinha muitos pedidos há fazer. E fiz. Disse estava infeliz com meu trabalho, pois trabalhava muito, não era reconhecido e não ganhava o que entendia merecer. Pedi a Ele que me ajudasse a crescer profissionalmente ou a encontrar um trabalho melhor. “Sim” foi sua resposta. Fiquei animado, embora exceto nos testos bíblicos, dos quais tinha inconciliável discordância, nunca soubera que Deus havia atendido diretamente os pedidos de quem quer que fosse. Continuei. Disse que minha relação com minha esposa pioravam a cada dia. As brigas se acumulavam e desgastou meu casamento. Pedi-lhe que me ajudasse a mudar isso, pois gostava muito dela e não queria perdê-la. Novamente sua resposta foi “sim”. Afirmei, então, que não conseguia conversar com meus filhos. Eu não conseguia entendê-los e parecia que nem eles a mim. Com a falta de diálogo e meu crescente isolamento, estava perdendo o carinho e respeito deles. “Sim”. Contei-lhe, por fim, que em razão de tudo isso, estava bebendo muito e para esquecer meus problemas saia para jogar por madrugadas inteiras, o que me levou a acumular dívidas que cresciam a cada jogo. Sabia que isso agravava meus problemas, mas simplesmente não conseguia, ou não queria, parar. Pedi-lhe então que me ajudasse a mudar de vida. E a resposta fui a mesma. Senti neste momento um misto de alívio e frustração. Ou decepção. Deus estava me ajudando, mas porque razão deixou minha vida chegar à situação em que se encontrava. E resolvi perguntar-lhe:

- Deus, se é tão fácil para o Senhor resolver meus problemas, porque permitiu que eu os tivesse. Se o Senhor é tão benevolente e tem o poder de ajudar as pessoas, porque permite que as coisas dêem errado em suas vidas?

Silêncio. Por um momento achei que o diálogo havia se encerrado e que minha possível alucinação havia acabado. Por fim, Ele me respondeu:

- Porque eu dei a todos os homens o livre-arbítrio. Você e qualquer pessoa podem fazer da vida o que quiser. E por ter decido que assim os homens deveriam viver: livres, seria incoerente de minha parte intervir nas escolhas que as pessoas fazem, sejam elas certas ou erradas. A missão dos homens na Terra, de todos eles, é somente duas. A primeira é a de aprender. Aprender estudando, aprender com o conhecimento que já existe ou que é produzido pelo homem a cada dia no mundo inteiro, e principalmente, aprender com suas experiências vivenciais, com tudo o que a vida que escolheram viver lhes ensinar. Tirar proveito racional e emocional de cada obstáculo que enfrentar para aprender com ele. O sucesso, seja grande ou pequeno, e os momentos de felicidade, são a força que os impulsiona, pois enchem seus espíritos de esperança, produzindo a energia que precisam acumular para enfrentar as situações difíceis que ainda virão. E são justamente no enfretamento das dificuldades e na busca da solução dos problemas que os homens aprendem, crescem e se tornam mais fortes, mais seguros e mais confiantes enfrentar novas dificuldades e cumprirem a sua missão na Terra. Em segundo, o homem deve desenvolver sua capacidade de amar, a capacidade de perdoar e a compaixão, que é o amor pelo próximo. Nada traz tanto o homem para perto de mim quanto o amor ao próximo e a capacidade de perdoar. Não somente de pedir perdão, pois isso é fácil e os homens o fazem corriqueiramente. Mas verdadeiramente de perdoar. E perdoar só possível quando se constrói o amor e a compaixão pelo próximo. Isso é difícil e por isso tem que ser constantemente exercitado, não importando qual infortúnio ou prejuízo a pessoa lhe tenha causado. Assim como o conhecimento é necessário para crescer e enfrentar os problemas, mostrando caminhos e fortalecendo a vontade, o amor, a compaixão e, principalmente, o perdão, aliviam a alma, trazendo a paz de espírito. E a paz de espírito é o único caminho para a felicidade. Não há felicidade sem ela. Momentos de alegria podem existir, pois eles decorrem de inúmeras situações corriqueiras, naturais ou artificiais, como uma festa, encontrar alguém que se ama ou uso de uma droga, que é o que você faz com o álcool. Entretanto a alegria é efêmera. Termina tão logo finde a sua causa. E o homem acaba querendo mais e mais doses de alegria para suprir a ausência da felicidade, indo buscá-la em tudo lhe dá prazer. Sem perceber, substitui a felicidade pela alegria. Ela, entretanto, cobra seu preço, pois é preciso buscá-la frequentemente, tornando-se muitos vezes o principal o objetivo da pessoa e tomando a maior parte do seu tempo. Um tempo que deveria ser dedicado a fazer aquilo para o qual está aqui. Cumnprir sua missão. A felicidade, ao contrário, não é algo que se necessita buscar, pois é um estado do espírito. De paz. Embora mais suave, menos intensa, é mais profunda e duradoura, e não depende ou não é necessário nada externo para obtê-la, mas somente das escolhas que fizer, das decisões corretas que tomar.

Um tanto tímido e temeroso, resolvi intervir.

- Mas nós não sabíamos disso, Senhor. Como podemos saber o que é certo ou errado? Perguntei.

- No seu íntimo todos os seres do universo sabem a distinção entre o certo e o errado. Pense nisso e veja se em cada situação da sua vida você não tem a percepção do que é certo a fazer. Basta você permitir que o sentimento, a intuição, substitua o desejo, pois o desejo é racional, ele domina a mente e obscuresce a intuição. Se permitir que sua escolha seja sempre racional, embora muitas vezes é preciso que seja, ela invariavelmente irá optar por decisões que levem à satisfação e ao prazer ou que evitem dor e sofrimento. O uso da intuição, de sua mente inconsciente, ficará tanto mais claro ou fácil quanto mais você agir assim, pois a capacidade de diferenciar o certo do errado, o bem do mal, o salutar do prejudicial, é uma condição necessária e natural para que cada ser tenha em si a capacidade de perceber o que harmoniza a natureza e o harmozina com ela. A intuição foi esquecida pelo homem. Deixada de lado quando foi substituida gradativamente pelo pensamento racional. Os animais agem intuitivamente, e sua intuição lhes faz agir sempre de forma correta, nenhum animal destrói, mata, por prazer ou satisfação, senão para sobreviver, por isso vivem em harmonia com a natureza e mantém seu equilíbrio. O homem construiu necessidades e desejos e se coloou à disposição deles, e a busca de sua satisfação o levaram a usar cada vez mais sua racionalidade em detrimento da intuição a fim de buscar o que entedia ser bom para si mesmo, individualmente. Deriva daí sentimentos como ganância, egoísmo, avareza, inveja e todo o males que decorrem deles. O homem ainda não aprendeu que somente o que é bom para todos, para o equilíbrio da vida, é verdadeiramente bom para ele. Mas foi assim que permiti que fosse, pois somente aprendendo a usar sua racionalidade aliada à intuição e aos sentimentos, equilibrando e harmonizando estes elementos, o homem irá evoluir. É preciso que ele entenda racionalmente quais os sentimentos que lhe ajudam e quais lhe prejudicam, para lidar com eles de forma adequada. E é isso que espero que cada ser humano, nao importando o grau de evolução em que se encontre, aprenda um dia: a usar sua racionalidade somente para o permanente aprimoramento de si mesmo. Para ser mais e não para ter mais. Entretanto eu jamais deixei o homem sozinho no cumprimento destas duas tarefas, como muitos acreditam. Assim como fiz com as ciências, quando mandei para a Terra pessoas mais desenvolvidas que as que aqui viveram, tanto na capacidade intelectual quanto na compaixão e no amor. Fiz isso para ajudar o homem a acelerar o conhecimento científico, a desenvolver tecnologias, a aprimorar as artes, assim também o fiz enviando pessoas para ensinar o homem, com seus exemplos, a amar ao próximo e a perdoar, inclusiva dando sua própria vida por isso. Esta era a mmissão deles, embora nem eles próprios necessariamente soubessem disso. Você deve certamente conhecer pessoas como Aristóteles, Sócrates, Einstein, Newton ou Freud. Ou Shakespeare, Da Vince e Michelangelo. Também veio Buda, Chico Xavier, Madre Tereza, Gandhi e Jesus. A estes vocês chamam de gênios ou santos, emboira apenas fossem mais evoluídos em determinadas áreas. E há outros tantos mais ou menos conhecidos, cujos dons tem sua devida importância, enviados todos por mim para ensinar, orientar e dar exemplos ao homem do que eu desejo dele, do que importante para ele chegar a mim. Mas não somente estas pessoas mais evoluídas são importantes para a humanidade. Durante sua vida você presenciou situações onde pessoas comuns agiram com compaixão, com amor ou demonstram capacidade de perdoar. Também estas pessoas eu coloquei no seu caminho naquele momento, porque você precisava delas. Pessoas que vieram para ensinar coisas que você precisava aprender, mesmo que você tivesse a liberdade de escolher se queria ou não aprender. Pessoas que lhe deram algum apoio ou ajuda, dizendo palavras importantes, que confortaram ou mesmo orientaram, indicando algum caminho a seguir. Isso acontece com todos o tempo todo, embora muitos sequer percebam ou dão a devida importância da presença dessas pessoas em suas vidas, por sua atitude ou seu exemplo. Acredite, embora eu não decida pelas pessoas, cada situação, cada pessoa tem um pouco de mim. O fato de não perceber minha presença em cada ser humano ou nas situações que acontecem na vida de cada um não significa que eu não esteja lá.

Eu estava absorvido e profundamente impressionado pelas palavras de Deus. Jamais havia pensado no mundo e na vida das pessoas da forma como Ele estava me expondo. Porém, neste momento, me ocrreu outro questionamento:

- Mas, e as pessoas ruins, más. Os assassinos, os estupradores, os ladrões, os corruptos? Os que roubam, enganam, mentem, traem. Eles muitas vezes não são punidos. E pior. E suas vítimas? Porque, Senhor, algumas pessoas sofrem tanto, muitas vezes pela ação dessas pessoas ruins. Crianças são abandonadas. Idosos sofrem nos hospitais, padecendo de doenças, dores e solidão. E os que perdem tudo o que tem? Porque elas precisam passar por isso?

- Com eu lhe disse, e usando uma metáfora para exemplificar, cada um tem uma história a ser encenada no seu tempo na Terra. Para isso, digamos que seu personagem virá trajado de acordo com esta história. Mas isso não é definitivo na grande maioria das situações, pois cada um poderá mudar este traje caso necessário ou se fizer por merecer. Assim acontece com as pessoas que nascem, por exemplo, com alguma deficiência física. Embora jamais poderá mudar esta condição, seu aprendizado será o de viver desta forma e evoluir com isso. Mesmo as pessoas que nascem sem um nível de consciência, razão pela qual são consideras inaptas a aprender ou mesmo sobreviver sem ajuda, o espírito preso em seu corpo usa aquela forma para aprender, além de proporcionar às pessoas que irão compartilham a vida com elas e auxiliá-las na sua caminhada que também aprendam com sua condição. Da mesma forma como acontece as pessoas de bom coração, honestas, justas e que ajudam ao próximo, também acontece com os maus. Todos estão aqui na condição necessária que lhes favoreça o que necessitam aprender para evoluir. E todos terão seu livre-arbítrio para fazê-lo ou não. Você poderia escolher roubar ou enganar para saldar suas dívidas. Você poderia inclusive, em uma de suas brigas, matar sua esposa. Mas não o fez. Foi sua escolha não fazê-lo. Nada o impediu, exceto sua vontade, derivada da forma como você escolheu viver. Resistir ao caminho do mal também é aprender. É claro que também não era a forma como sua esposa deveria morrer para cumprir a missão dela, mas quando chegar a hora e a forma, isso irá acontecer.

- Mas esta decisão não vem também da essência de cada um? Não decidimos assim por termos nascido assim? Intervi, com certa convicção, já me sentindo mais à vontade na presença de Deus.

- A crença de que existem pessoas com essência, ou índole, boa e outras má de certa forma é correta, porque a essência de cada um faz parte de sua missão. A maldade pode também ser uma carência a ser suprida, por isso mais importante ainda a necessidade que estas pessoas tem de aprender, de evoluir, para completar o que ainda falta, já que estão mais longe dos que já desenvolveram a bondade, a caridade, a compaixão, o amor ao próximo e todos os demais sentimentos nobres. E justamente por serem menos evoluídos é mais difícil para essas pessoas. Acredite, eles sofrem mais que todos. Quanto menos sentimentos nobres, menos evolução, mais dor e sofrimento. Mas esta condição não é definitiva. Continua sendo uma escolha. Estas pessoas têm o mesmo acesso à mente inconsciente, que é o meu meio de chegar às pessoas, que os demais. Muitos conseguem mudar. Outros não. Os que não conseguem, irão sofrer por mais tempo com a consequência de seus atos ou irão retornar para aprender o que ainda precisam para ir para um plano superior em outras circunstâncias e de outra forma, até que consigam. O homem sente angústia, tormento, infelicidade, porque a mente inconsciente está lhe dizendo que as escolhas foram equivocadas e caminho trilhado está errado. Muitos preferem acreditar que o mundo é injusto ou não lhes dá o que acredtam merecem e transferem para fora de si a razão de sua infelicidade, optando por soluções simples para suprir sua angústia, como as drogas, remédios ou mesmo tranferir sua seus problemas, culpando outras pessoas. Não procuram saídas que possam mudar suas vidas ou não querem ter este trabalho, muitas vezes árdua, já que mudar é difícil, sobretudo dar o primeiro passo, que é a consciência desta necessidade. Um alcoólatra só deixará de sê-lo quando, primeiramente, se conscientizar de sua condição, e depois agir para mudar sua condição, tomando decisões corretas. Mas acredite, todos têm a mesma oportunidade e a mesma possibilidade de escolher mudar. Eu não intervenho em nada. Seja para ajudar, seja para punir. Porque eu já fiz isso quando dei ao homem o livre-arbítrio. Cada um escolhe quando, como e o que vai fazer para ser uma pessoa melhor. Ou simplesmente pode não querer ou não fazer nada, o que também é uma escolha. Isso não muda o fato de que o homem sempre será responsável por seus atos e as consequências deles, seja por sua ação, seja por sua omissão.

- Mas e as vítimas, Senhor. E as pessoas que sofrem? Insisti.

- Como a razão da vida é sempre a mesma, a de evoluir, o que muda é somente a forma como cada um vai se desenvolver e o que precisa aprender para isso. Assim, no caso destas pessoas, esta é a forma com que suas necessidades de aprender será supridas. Eles precisam passar por isso. Entenda que cada situação vivida nada mais é que uma oportunidade. As situações em que cada um se encontra, as experiências pelas quais passa ou a forma como vive não é mais nem menos do que precisa. O sofrimento e a dor é uma oportunidade de aprender a suportá-la para quem assim precisa fazer. E também os momentos antes da morte e a condição em que ela irá ocorrer é apenas o que falta para que se complete a ciclo de sua vida. A morte nada mais é que a conclusão de uma etapa onde não há mais nada a se fazer aqui, seja porque a opção foi não fazer o necessário, seja porque já fez o suficiente. Como existem infindáveis formas de morrer, com cada ser humano ela acontecerá de uma forma diferente, de acordo com a necessidade que tem de cumprir sua missão na Terra até o último instante de vida. Como cada pessoa está em um estágio distinto e necessita de uma determinada condição para finalizar sua vida, seja com sofrimento, seja com a ausência dele, nenhum tempo e nada é desperdiçado, nem mesmo o último suspiro. A forma como irá ocorrer a morte é apenas circunstancial, o que importa é o que fizemos antes dela, pois se algo restar, a pessoa irá retornar para completar o que lhe é necessário ter cumprido aqui. Se não restar mais nada, irá para um plano superior da evolução, continuando sua missão de chegar a mim. É importante saber que, exceto algumas condições imutáveis da vida, como a condição em que cada um cada um nasce ou a forma como vai morrer, por exemplo, a grande maioria do que acontece na vida, seja desejado ou não, é a consequência direta ou indireta, porém única e exclusivamente, das escolhas de cada um.

A insistência de Deus em relação ao fato de que tudo que nos acontece é consequência do nosso livre-arbítrio e que ele não pode intervir nisso, pois nos tiraria a oportunidade de aprender com nossos erros e nos motivar com nossos acertos me deixou angustiado. Afinal, Ele havia dito que iria me ajudar em cada um dos meus pedidos e se fizesse isso seria, como afirmara, uma incoerência. Mas como a palavra de Deus é, ou deveria ser, inquestionável, resolvi perguntar.

- Senhor, eu lhe fiz vários pedidos, para os quais o Senhor respondeu que sim. Mas me parece que se fizer isso estaria agindo contra tudo o que acabaste de me dizer. Porque está dando a mim, especialmente, esta oportunidade?

Mesmo não O vendo, pude percebir um sorriso em Sua voz.

- Porque já o fiz anteriormente. Já lhe dei esta oportunidade. Apenas esclareci como e porque as coisas são como são, e não há nenhuma incoerência no fato de ter dito sim a todos os teus pedidos e o que eu lhe disse. Quando afirmei que você tem o livre-arbítrio, disse também que pode resolver por si próprio todos os seus problemas, pois a escolha continua sendo sua. Você quer ganhar mais? Sim. A escolha é sua se quer mudar de emprego ou se quer aprimorar seus conhecimentos para melhorar mais os ganhos com seu trabalho. Você quer melhorar seu relacionamento com sua esposa? Com seus filhos? Quer parar de beber e de jogar? Sim, você pode. Assim como lhe dei a liberdade de escolher ir por este caminho, também tens toda a liberdade de escolher outro, de buscar novas oportunidades para fazer diferente e obter outros resultados. Jamais lhe impedi de fazer as escolhas certas para que tenhas o que deseja, mas não as farei por você tanto quanto não o impedirei de fazer escolhas erradas. Entenda que assim como você pode continuar fazendo as coisas como está fazendo agora por entender que esta é sua vida, nada está determinado nela que você mesmo não possa mudar. Você precisa apenas se conscientizar do que precisa mudar, tomar a decisão de fazer a mudança e determinar como a fará. O resto é determinação, força de vontade e disciplina nas suas ações, pois não basta apenas querer. Vontade e decisão por si só não mudam o estado das coisas. Porém não posso intervir na sua escolha e nem ajudar nas suas ações. São condições que somente podem ser estabelecidas por você. Saiba, entretanto, que se continuar agindo da mesma forma suas orações serão inúteis, pois eu não posso fazer nada que você mesmo não queira fazer. Agora se quiser mudar, tenho certeza que suas orações, caso queira continuar a fazê-las, não serão mais de súplicas, mas de agradecimento. E eu realmente prefiro estas, não porque necessite ser reconhecido por ter feito coisas que não faço, já que apenas dei a liberdade de cada um fazê-las, mas porque a gratidão é um ato de humildade e ser humilde, além de ser o mais nobre dos valores humanos, é condição fundamental para o perdão.

Neste momento fez-se um breve silêncio. Estava absorto em minhas reflexões sobre as palavras do Senhor, quando Sua voz novamente encheu a sala.

- Ah, eu ia me esquecendo. O livre-arbítrio foi a forma como eu escolhi para que o homem pudesse escolher a forma dele para chegar até mim, mas existe um senão. Você precisa entender que a liberdade de escolha lhe dá todas as possibilidades, mas lhe tira uma: a de transferir a culpa. Você jamais poderá culpar quem quer que seja por qualquer coisa que derive da sua escolha. A escolha é sua, mas a responsabilidade também. Seu destino estará definido por sua escolha em cada situação até que uma próxima oportunidade de decidir lhe seja dada. Se você está infeliz com seu trabalho, a culpa não é de seu chefe que não reconhece seu esforço, mas sua, por ter escolhido este trabalho ou por fazê-lo da forma como escolheu fazer. Se seus filhos estão distantes de você, a culpa não é deles, mas sua por ter atitudes que causam este afastamento. Você precisa assumir a responsabilidade por seus atos. E se o resultado deles não for o que você queria, não culpe quem não lhe respondeu com esperava, pois é do livre-arbítrio dops demais responder ao que lhes acontece conforme suas próprias escolhas. Faça diferente, aja diferente, faça mais, ou menos, mas não repita o que já não deu certo uma vez. Nem sempre você agirá como deseja e terá a resposta que espera. Nem sempre o caminho que você escolheu o levará aonde você quer ir. E embora seja mais cômodo, nem sempre o caminho mais curto ou mais fácil é o melhor caminho. Pode-se levar tempo e fazer muito esforço para se conseguir o que se deseja e às vezes é preciso mudar de rota mais de uma vez, porém o mais importante não é o tempo ou a forma como se vai, mas chegar onde se quer fazendo as escolhas certas, não as fáceis ou prazeirosas. Aprenda com cada escolha que não deu certo e tente descobrir onde e como errou e o que pode fazer diferente, mudando sempre que necessário, mesmo que precise recomeçar muitas vezes. E não esqueça: nunca abra mão de ser, a cada dia, uma pessoa melhor, em todos os sentidos. Esta é, realmente, a única e verdadeira razão pela qual você está aqui. O que não for importante para isso, deixe de lado, porque será somente mais um peso que terá que carregar. Por fim, tenha fé em você mesmo, pois tudo o que fizer da melhor forma que puder é tudo o que precisa fazer. E se estiver feliz continue, pois a felicidade é o estado que a alma atinge quando estamos fazendo o que é certo. Caso contrário, repense, pois a infelicidade é o alerta que você está recebendo de que algo precisa ser mudado.

De repente as palavras cessaram. Eu estava em transe. Aguardei. Mas o equipamento de som desligou. Eu queria mais, embora soubesse que tudo o que ouvi era mais que suficiente para obter tudo àquilo que havia pedido a Deus. Neste momento, senti um misto de vazio e força. Havia paz onde, momentos antes, eram de angústia e sofrimento. Sentia-me fortalecido e grato. Um silêncio impressionante tomava conta da sala. Era estranho. Sentia a presença de Deus ao mesmo tempo em que sabia que Ele não estava mais ali. Era como se tivesse saído de dentro do som onde eu O ouvia e estivesse em todos os lugares, principalmente dentro de mim. Comecei a chorar. Por um tempo permaneci quieto, sentado, deixando as lágrimas expulsarem tudo aquilo que estava destruindo o que tinha de bom em mim. Por fim levantei. Enxuguei o rosto, respirei fundo e resolvi mudar minha vida. E sabia que tinha muito trabalho a fazer...

sábado, 26 de fevereiro de 2011

Porque março é feminino?

As mulheres, ao longo da história, sempre foram relegadas a um plano inferior. Raras são as religiões, regimes sociais ou de trabalho que colocaram a mulher num patamar sequer próximo ao do homem.

Com a uma participação mais efetiva nas atividades laborais durante o Século XVIII, as mulheres eram submetidas a um sistema desumano de trabalho, com jornadas de 12 horas diárias, além de estarem mais sujeitas a espancamentos e agressões sexuais, sem que a sociedade dominada pela cultura machista tivesse mecanismos legais que as protegessem.

Somente a partir da Revolução Industrial, em 1789, é que as reivindicações das mulheres exigindo melhores condições de trabalho, acesso à cultura e igualdade entre os sexos, começam a criar força. No dia o dia 8 de março de 1857, 129 tecelãs da fábrica de tecidos Cotton, de Nova Iorque decidiram paralisar suas atividades, reivindicando o direito a uma jornada de 10 horas de trabalho, protagonizando assim a primeira greve norteamericana conduzida somente por mulheres. A polícia reprimiu violentamente a manifestação, obrigando as operárias a refugiassem-se dentro da fábrica. Com o apoio dos policiais, os donos da empresa trancaram-nas no local e atearam fogo, matando carbonizadas todas as tecelãs.

Em 1910, na II Conferência Internacional de Mulheres, realizada na Dinamarca, foi proposto que o dia 8 de março fosse declarado Dia Internacional da Mulher em homenagem às operárias mortas na fábrica de Nova Iorque. A partir de então esta data começou a ser comemorada no mundo inteiro em homenagem às mulheres.

Talvez muitos achem que não deveria haver “um” Dia Internacional da Mulher e que todos os dias deveriam ser dias internacionais da mulher, o que é verdade. Mas esta data tem um significado que vai além de lembrar a importância das mulheres na construção da sociedade. O Dia Internacional da Mulher é um marco histórico que está intimamente ligado aos movimentos feministas que buscaram mais dignidade para as mulheres e tornaram as sociedades mais justas e igualitárias. Este dia vai, a cada ano, não só nos lembrar a importância da contribuição da mulher como progenitora da raça humana, mas nos fazer entender o que significa afetividade, compaixão, doação e respeito à vida. Talvez um dia nós, homens, possamos perceber que nossa mais poderosa arma, a força bruta, nos legou esta sociedade violenta, brutalizada na qual vivemos. Talvez o homem entenda, quando entender a mulher, que o mundo está precisando, mesmo, é de um toque feminino. Que assumam e façam o que sabem tão bem fazer: suportar o sofrimento para produzir a vida, abrindo mão de si por amor a ela, porque nós, trogloditas, com honrosas excessões, somos incapazes disso.