sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Aprender

Depois de algum tempo você aprende a diferença, a sutil diferença entre dar a mão e acorrentar uma alma.
E você aprende que amar não significa apoiar-se e que companhia nem sempre significa segurança.
E começa a aprender que beijos não são contratos e presentes não são promessas.
E começa a aceitar suas derrotas com a cabeça erguida e olhos adiante, com a graça de um adulto e não com a tristeza de uma criança.
E aprende a construir todas as suas estradas no hoje, porque o terreno do amanhã é incerto demais para os planos e o futuro tem o costume de cair em meio ao vão.
Depois de um tempo você aprende que o sol queima se ficar exposto por muito tempo.
E aprende que não importa o quanto você se importe, algumas pessoas simplesmente não se importam.
E aceita que não importa quão boa seja uma pessoa, ela vai feri-lo de vez em quando e você precisa perdoá-la por isso.
Aprende que falar pode aliviar dores emocionais.
Descobre que se leva anos para se construir confiança e apenas segundos para destruí-la.
E que você pode fazer coisas em um instante das quais se arrependerá pelo resto da vida.
Aprende que verdadeiras amizades continuam a crescer mesmo a longas distâncias.
E o que importa não é o que você tem na vida, mas quem você tem na vida.
E que bons amigos são a família que nos permitiram escolher.
Aprende que não temos que mudar de amigos se compreendermos que os amigos mudam.
Percebe que seu melhor amigo e você podem fazer qualquer coisa, ou nada, e terem bons momentos juntos.
Descobre que as pessoas com quem você mais se importa na vida são tomadas de você muito depressa.
Por isso sempre devemos deixar as pessoas que amamos com palavras amorosas. Pode ser a última vez que as vejamos.
Aprende que as circunstâncias e os ambientes têm influência sobre nós, mas nós somos responsáveis por nós mesmos.
Começa a aprender que não se deve comparar com os outros, mas com o melhor que pode ser.
Descobre que se leva muito tempo para se tornar a pessoa que quer ser e que o tempo é curto.
Aprende que não importa aonde já chegou, mas onde está indo.
Mas se você não sabe para onde está indo qualquer lugar serve.
Aprende que, ou você controla seus atos ou eles o controlarão.
E que ser flexível não significa ser fraco ou não ter personalidade, pois não importa quão delicada e frágil seja uma situação, sempre existem dois lados.
Aprende que heróis são pessoas que fizeram o que era necessário fazer, enfrentando as conseqüências.
Aprende que paciência requer muita prática.
Descobre que algumas vezes as pessoas que você espera que o chute quando você cai é uma das poucas que o ajudam a levantar-se.
Aprende que maturidade tem mais a ver com os tipos de experiência que se teve e o que você aprendeu com elas do que com quantos aniversários você já celebrou.
Aprende que há mais dos seus pais em você do que você supunha.
Aprende que nunca se deve dizer a uma criança que sonhos são bobagens. Poucas coisas são tão humilhantes e seria uma tragédia se ela acreditasse nisso.
Aprende que quando está com raiva tem o direito de estar com raiva, mas isso não te dá o direito de ser cruel.
Descobre que só porque alguém não o ama do jeito que você quer que ame não significa que esse alguém não o ame com tudo o que pode, pois existem pessoas que nos amam, mas simplesmente não sabem como demonstrar ou viver isso.
Aprende que nem sempre é suficiente ser perdoado por alguém. Algumas vezes você tem que aprender a perdoar-se a si mesmo.
Aprende que com a mesma severidade com que julga você será em algum momento condenado.
Aprende que não importa em quantos pedaços seu coração foi partido, o mundo não pára para que você o conserte.
Aprende que o tempo não é algo que possa voltar para trás.
Portanto, plante seu jardim e decore sua alma ao invés de esperar que alguém lhe traga flores.
E você aprende que realmente pode suportar, que realmente é forte e que pode ir muito mais longe depois de pensar que não se pode mais.
E que realmente a vida tem valor e que você tem valor diante da vida.
Mas nossas dádivas são traidoras e nos fazem perder o bem que poderíamos conquistar se não fosse o medo de tentar

Parte do texto é de Veronica Shoffstall, intitulado "After a While”.
Na internet e na interpretação de O Menestrel (Moacir Reis) é atribuído a William Shakespeare.

sábado, 2 de outubro de 2010

Coragem é virtude de poucos

Ter coragem de dizer o que pensa é para poucos. Reproduzo aqui a carta do Presidente do CREA ao Presidente Lula por concordar com ela na íntegra!

Carta do Presidente do CREA ao Presidente Lula

NOTA DO AUTOR:
Pode divulgar o que eu escrevi na íntegra, não precisa cortar nada não. Eu nunca falo ou escrevo nada em segredo. Num pais de covardes como este, o único medo que eu tenho é de viver muito mais do que já vivi.

Um abraço, Otacílio M. Guimarães
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Sr. Luis Inácio Lula da Silva:

Causa indignação a qualquer cidadão medianamente esclarecido ouvir ou ler a asneira abaixo, pronunciada por uma pessoa semi-analfabeta, despreparada, sem nenhuma ética, que 52 milhões de abobalhados colocaram na presidência da república do Brasil.

*Esclarecendo: asneira vem de asno ou burro.

O senhor passou a sua vida toda, juntamente com o seu partido, mentindo para um povo até conseguir conquistar as consciências de 52 milhões de incautos que não sabem distinguir óleo de água e, agora, depois de ter implantado no Brasil o maior esquema e corrupção jamais visto no mundo, ainda vem dar uma de o mais honesto do país com essa afirmação desproposital, descabida e desrespeitosa.

Pois eu lhe digo, senhor Luis Inácio: eu sou um brasileiro de 62 anos de idade, não sou analfabeto, meus pais não eram analfabetos, eu recebi uma educação doméstica, moral e formal para dizer ao senhor, o seguinte: me respeite! Respeite o meu país! Respeite as pessoas que estão indignadas com a sua desfaçatez!

Se o senhor acha que o único repositório da ética e da moral deste país é o senhor, pois fique sabendo que eu quero discutir com o senhor sobre ética e moral, cara a cara, olho no olho.

Eu quero que o senhor me explique como é que Delúbio Soares e Sílvio Pereira armaram o esquema criminoso que resultou neste mar de lama que emporcalha a história do Brasil sem que o senhor, o José Genuíno e o José Dirceu soubessem de nada.

Eu quero que o senhor me explique, cara a cara, olho no olho, porque Celso Daniel, prefeito de Santo André, foi assassinado friamente e o seu governo agiu no sentido de paralisar as investigações.

Será que o senhor sabe o que significa obstrução da justiça? Pois foi isto o que o senhor fez, obstruiu a justiça. Se o Brasil fosse um pais sério, o senhor já estaria na cadeia só por isto.

Eu quero que o senhor me explique porque mandou a prefeita de São José dos Campos, Ângela Guadagnin, exonerar o secretário de finanças Paulo de Tarso Venceslau só porque este, que também fora secretário de finanças da Prefeitura de Campinas, descobriu um esquema de desvio de dinheiro público operado pela CPEM, que somente em 1992 desviou 10,5 milhões de dólares da prefeitura de São José dos Campos, sem falar nas outras três onde o esquema funcionava prefeito Antônio Palocci, ex-ministro da fazenda>, dinheiro esse que se destinava a alimentar o caixa 2 do PT.

Nesse esquema o Paulo Okamoto, que não detinha cargo público e era apenas militante do PT, fazia o papel que o Sílvio Pereira fez até ser desmascarado recentemente.

Note-se que estes fatos ocorreram há 12/13 anos atrás.

Não é de hoje, portanto, que o PT se utiliza desses esquemas criminosos para suprir o seu caixa 2 e aumentar o patrimônio de seus integrantes. Inclusive o seu e do seu filho, o Lulinha, que recentemente recebeu da Telemar cinco milhões e duzentos mil reais como investimento numa empresa que eu não pagaria um centavo por ela.

A troco de quê, senhor Lula, a Telemar deu essa dinheirama toda ao seu filho?

O senhor e seus asseclas vivem dizendo que tudo é culpa das elites brasileiras. Para mim, as elites que jogaram o PT e o governo Lula na lama têm nomes: José Dirceu, Sílvio Pereira, Delúbio Soares, Marcos Valério e os que estão acima destes que o senhor tão bem conhece e eu não preciso citar.

Como tem nome a sua Ministra Chefe da Casa Civil Dilma Rousseff – ex-guerrilheira, ex-terrorista, ex-assaltante de 4 bancos, ex-assaltante de residências, ex-tudo de ruim. O senhor é o chefe de todos eles. É o campeão mundial da "maracutaia" adversários políticos.

Pois eu lhe digo, senhor Lula: neste país nasceu antes do senhor um homem em condições de discutir com o senhor, cara a cara, olho no olho, sobre ética e muitos outros atributos que o senhor não possui, como por exemplo, capacidade administrativa, discernimento, iniciativa e coragem de tomar decisões.

E digo mais: que eu não estou sozinho, pois o Brasil tem milhões de homens e mulheres que têm condições de discutir com o senhor sobre ética e moral e dar aulas destas matérias, se é que iria entender. Quer me parecer que o senhor não entende o verdadeiro significado das palavras ética e moral, talvez seja este o caso, já que nunca estudou e se gaba de ter nascido de país analfabetos.

Na verdade, quem se gaba de ter nascido de país analfabetos e de ter pouco estudo não tem o direito de ofender todo um povo arvorando-se no único repositório da ética e da moral. Isto já é coisa de doente mental como aconteceu com Hitler, Stalin, Lumumba, Pol Pot, Mao, Fidel, Pinochet, Idi Amin, Sadan e tantos outros ditadores, responsáveis por milhões de assassinatos de inocentes.

Senhor Lula, o senhor foi colocado onde está por pessoas tão ignorantes ou mal intencionadas quanto o senhor*. Mas eu devo lhe dizer que os homens e mulheres de bem deste país já estão cheios das asneiras que o senhor fala e faz e com suas bravatas, com a sua incapacidade sobejamente demonstrada em governar o país e com o fato de estar se esquivando de suas responsabilidades nos desmandos praticados pela cúpula dirigente do PT querendo nos fazer crer que Sílvio Pereira e Delúbio Soares agiram sozinhos. Não creio que Sílvio Pereira e Delúbio Soares sejam tão burros assim. Só um idiota acreditaria nisso.

E digo-lhe mais uma coisa: pare de subestimar nossa inteligência, pare de ofender os brasileiros, principalmente aqueles que acreditaram em suas mentiras e suas falácias e lhe colocaram onde está hoje.

Está na hora do senhor devolver estes votos juntamente com um pedido de desculpas tomando a decisão de renunciar ao cargo para o qual o senhor nunca esteve preparado para exercer.

A seguir trecho do discurso proferido ontem pelo senhor, presidente Lula, para uma platéia de petroleiros da REDUC, Duque de Caxias, e que ofende pelo menos aqueles que possuem ética e dignidade neste país, o que não é o seu caso.

"Neste país está para nascer alguém que venha querer discutir ética comigo. Eu digo sempre o seguinte: sou filho de pai e mãe analfabetos. E o único legado que eles deixaram, não apenas para mim, mas para toda a família, é que andar de cabeça erguida é a coisa mais importante que pode acontecer para um homem ou uma mulher. E eu conquistei o direito de andar de cabeça erguida neste país com muito sacrifício. E não vai ser a elite brasileira que vai fazer eu baixar a cabeça".

Estou pronto para discutir com o senhor sobre ética e outros assuntos a qualquer momento que o senhor escolher. Isto se o senhor tiver coragem, porque sempre foge covardemente do debate com a imprensa e com pessoas inteligentes, pois não tem a hombridade de responder ou enfrentar.

A maioria do povo brasileiro está de saco cheio com o senhor e com o seu PT - PARTIDO dos TRAMBIQUEIROS, cambada de assaltantes que ocupam postos chaves de nossa nação, mas vai chegar a hora de prestarem contas das falcatruas que enche seus bolsos dia e noite*. E não vão adiantar operações plásticas e outros artifícios, fugir para outros países, pois o mundo hoje está muito menor do que já foi no passado e sua figura burlesca já é bem conhecida lá fora.

Estarei aberto para debater estes e outros assuntos em público, em dia, hora e local que bem lhe aprouver, com a presença da imprensa ainda não comprometida. Considere-se desafiado a partir deste momento.

Otacílio M. Guimarães
Presidente do CREA

terça-feira, 28 de setembro de 2010

Na Veredas do Vereza

O ator Carlos Vereza tem escrito algumas verdades e concedido algumas entrevistas que tem "aborrecido" o pessoal do PT (porque será que a verdade aborrece tanto?). Normalmente não publico texto de outros blogs no meu, mas este vale a pena!


"Por Carlos Vereza:

• quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Esperto e oportunista!
Um dos argumentos prediletos dos bolsas net, é de que Lula sofre preconceitos por ser mestiço ex-operário, não ter diploma, etc... Ora... o malandro teve 30 anos sustentado pelo PT, e outras fontes, e não preocupou-se sequer em aprender português, enquanto Vicentinho, também de origem humilde, e igualmente petista, formou-se em direito, e Marina (continua petista) alfabetizou-se em condições muito mais precárias, após os dezesseis anos! Uma coisa é inegável: a figura, além de oportunista, é de uma esperteza macunaímica... Quando liderava as greves no ABC, jogava para os dois lados, e já possuia um corcel 2, segundo depoimento de um ex-sindicalista, e que consta neste blog...
O Presidente da República ficou mais sentado no aerolula do que na cadeira da presidência! Suas despesas com cartões de crédito envergonham àqueles que "vivem" de aposentadoria! Dividiu a nação em cotas, jogando negros contra brancos sob o pretexto de "reparar" injustiças históricas, quando seria mais decente investir no ensino básico, com possibilidades para todos, e não criando situações humilhantes para os negros, que mesmo com notas inferiores são preferidos em disputa de vagas para faculdades, em função da cor de sua pele! Acusa frequentemente as elites, sendo ele, o Golden Boy dos banqueiros nacionais e internacionais; paga, demagógicamente, o FMI, enquanto a divida interna do país alcança a casa de mais de um trilhão e quinhentos bilhões de reais! Transforma o povo em párias, reféns das várias bolsas anestesias, e tudo isso pela permanência indefinida no poder! Compara o poste a Mandela, e pasmem!, ao próprio Jesus Cristo, e as "pesquisas" indicam 80% de aprovação para a triste figura! Fica aqui um repto: que Lula vá ao Maracanã em dia de clássico e permita que seu nome seja anunciado no serviço de autofalante... Outro desafio: repetidamente, a figura acusa o governo de Fernando Henrique Cardoso de todos os problemas, por ele Lula, não resolvidos; experimente mudar o plano econômico herdado de FHC! Troque o real por uma moeda inventada, digamos, pelo Mercadante! Abandone o câmbio flutuante...o combate à inflação... a lei de responsabilidade fiscal... Cadê o tal de plano B, que se não fosse o Meireles (ex-PSDB) tería afundado o país logo no primeiro ano de (des)governo? Ah... Duda Mendonça... O que não se inventa por dinheiro! Aliás, recebido no exterior burlando toda a legislação eleitoral, por ocasião do Mensalão!!! Ah...se eu não acreditasse na Lei de Causa e Efeito...

(...) Lula, assinou "contrariado", segundo palavras de Celso Amorim (o diplomata trapalhão!), as sanções contra seu amigo, Ahmadinejad.

(...) Segundo comunicado do Irã, Lula não enviou qualquer pedido oficial em favor de Sakineh! O Grande Timoneiro, limitou-se a mencionar o fato,para variar,em cima de um palanque!...

(...) O escritor Ives Hublet,desce do avião em Brasilia, é detido,levado para uma cela e morre de câncer de um dia para o outro! Em seguida, seu corpo é cremado, sem a autorização de qualquer parente, e até o momento fica tudo por isto mesmo, como ficaram os casos de Celso Daniel, Toninho de Campinas, e o médico legista que afirmou que Celso fora torturado antes de ser assassinado...

Aos amigos seguidores: disponham, transcrevam, repassem! Este espaço é nosso, pertence à todos que estão preocupados com a ameaça de uma ditadura petista.

Indiquem apenas a fonte: "Nas veredas do Vereza"


• domingo, 14 de agosto de 2010

Amigos seguidores, bloquearam nosso espaço: já era de se esperar! O terrorismo virtual está acontecendo em vários blogs que fazem criticas à ditadura anunciada!
Caso queiram mandar algum comentário, enviem para o meu e-mail: carlosvereza@hotmail.com!

• domingo, 15 de agosto de 2010
Bloqueio antes das eleições: reflitam como será depois!
Não sei se o que continuarei a escrever será lido, mesmo assim continuarei!
Pergunto? Que poder tem o meu despretencioso blog para ser bloqueado?
Não vou choramingar, quem entra na chuva é para se molhar, nem estou perplexo ou decepcionado, pois quem é capaz de ser amigo dos piores ditadores do planeta, o que significa travar um blog?

Interessante: o sujeito que discorda do Lula,é classificado como direitista ou vendido... Aonde estavam os petralhas quando fui sequestrado pelo DOI-CODI, por duas vezes, por protestar contra a ditadura militar?

Quando postei o texto, 2010: cristais quebrados ( já se vão uns 6 meses), os bolsas net, os fanáticos petistas, me condenaram ao fogo eterno,porque afirmava,que Lula e capangas,fariam de tudo para manter o poder!

E o que assistimos agora? Dossiês falsos,quebra de sigilo de Eduardo Jorge,engavetamento de CPIs, a morte não explicada de Ives Hublet (aquele das sagradas bengaladas no crápula Zé Dirceu), "manifesto" das Centrais Sindicais, subsidiadas pelo governo, apoiando o poste, a nomeação em final de governo de mais de 30 mil companheiros,terrorismo virtual, a compra da dignidade do povo, através das bolsas anestesias, e mais o que vem por aí!

Continuarei a escrever, a dar entrevistas, o que for possivel para denunciar esta quadrilha travestida de partido de esquerda! Fascistas, é o que são!

Deus me poupou do sentimento do medo! Todo o dia é bom para viver ou morrer,mas sei bem a diferença entre ditadura e democracia, e convoco a todos que desejam um Brasil livre a lutar o bom combate!

Tudo isto antes das eleições imaginem se o poste ganhar!

Um abraço,

Carlos Vereza"

segunda-feira, 5 de julho de 2010

Uma seleção sem brilho

Perdemos sem brilho uma Copa que ganharíamos sem brilho.

Em 1637, René Descartes escreveu o célebre Discours de la méthode pour bien conduire sa raison, et chercher la verité dans les sciences (Discurso sobre o método para bem conduzir a razão na busca da verdade dentro da ciência), traduzido e conhecido como “O Discurso do Método”, através do qual deu forma ao pensamento ocidental quando estabelece as regras para o método científico, proprondo a simplificação e a divisão em partes dos sistemas e seus fenômenos para que possam ser analisados de forma “lógica”.

Descarte estabelece três operações elementares da mente humana: a indução, que consiste em captar realidades mínimas, a dedução, que propõe agrupar observações e inferir resultados e a enumeração¸ estabelecendo a revisão e reelaboração de conceitos de forma ordenada. Simplificadamente, estas operações são realizadas através dos seguintes passos ou preceitos:

1. Receber as informações de forma seletiva, escrupulosa, que sejam evidenciadas e por fatos e dados e fiel a eles, examinando sua racionalidade e sua justificação, verificando a verdade, a boa procedência daquilo que se investiga e aceitando apenas o que for indubitável.

2. Analisar e dividir o assunto em tantas partes quanto possível e necessário.

3. Sintetizar e elaborar de forma progressiva as conclusões abrangentes, ordenando-as a partir de objetos mais simples e fáceis até os mais complexos e difíceis.

4. Enumerar e revisar minuciosamente as conclusões, garantindo que nada seja omitido e que a coerência geral exista.

No penúltimo capítulo do livro, Descartes mostra a aplicação prática do método a algumas questões científicas, destacando, entre elas, a descrição dos animais não-humanos como máquinas orgânicas complexas, mas também atribui a mesma característica a vários dos comportamentos do próprio ser humano, afirmando que igualmente são passíveis de explicações mecânicas, estabelecendo que a diferença do ser humano para os outros animais seria a capacidade de responder criativamente ao meio, em especial através da linguagem. Este fato estabelece o mecanicismo que marca o pensamento cartesiano.

O pensamento mecanicista, linear e reducionista de Descartes mostrou-se útil na análise dos sistemas complexos quando estabelece que estes sistemas são constituídos de partes constituintes e, portanto, para serem analisados e entendidos devem ser decompostos nestas partes, as quais, avaliadas de forma isolada e individual podemos entender o funcionamento ou comportamento de cada uma delas e a partir disso entender o todo. Um exemplo disso é a análise estatística do pensamento coletivo, com as pesquisas eleitorais, onde ao se verificar o comportamento de uma amostra da população (estatisticamente representativa da mesma), pode-se inferir que a população tem o mesmo comportamento da amostra. O que efetivamente ocorre.

Mas voltando à Copa do Mundo, se utilizarmos o modelo caretsiano para analisarmos o resultado do Brasil (como todos os analistas que ouvi e li até agora tentaram fizer, com resultados desanimadores, tal como em 2006), é possível perceber que qualquer avaliação feita acerca do Brasil será constituída apenas opiniões baseadas em ilações ou percepções pessoais, tendo em vista que não é possível seguir o método científico de análise consagrado pelo autor. Senão vejamos:

1. Não temos as informações de forma seletiva e escrupulosa, e que tenham dados e fatos evidentes e de procedência confiável, não sendo possível assim examinar sua racionalidade e sua justificação e, portando, aceitá-las como indubitável.

2. Dado o item anterior, não há forma de dividir e analisar o assunto, mesmo em partes (o que, a despeito disso, é exatamente como é feito, tornando a análise ainda mais temerária, já que temos fatos isolados e não a verdade como um todo).

3. Sem a análise adequada e uma divisão de fatos coerente, não é possível sintetizar e elaborar de forma progressiva e abrangente as conclusões, mas apenas uma análise superficial e opinativa dos elementos que podem (ou não) compor os fatos e muito menos ordenar tais elementos.

4. Se não é possível obter informações confiáveis, não é possível dividir e analisar o assunto de forma coerente, como seria possível tirar conclusões sem que nada seja omitido e que a coerência geral exista?

De fato, podemos isolar os fatores que entendemos possíveis e até mesmo prováveis e acharmos uma (ou várias) razão para a eliminação e um (ou vários) responsável por ela (e este seria o único objetivo, dada a análise superficial que é possível fazer com os elementos que se dispõe), embora cada conclusão se daria – e só poderia se dar – de forma isolada. O fato é que o pensamento cartesiano, embora a maioria das análises tenha sido baseada nele (o que é natural e comum, já que o pensamento ocidental e fortemente influenciado pelo método reducionista de pensar) tenha escolhido culpados, e o Dunga e Felipe Mello me parece ser alvo preferido das análises simplistas, qualquer conclusão só resulta em vender notícias e garantir o empregos dos analistas, mantendo nós, ouvintes e leitores, ocupados com discussões estéreis –embora deliciosas – sobre o tema, já que se analisarmos o resultado através do pensamento sistêmico, sou seja, entendendo que os fenômenos não acontecem por ações isoladas dos elementos constituintes de um sistema, mas por uma série de ocorrências interligadas e interdependentes, a análise fica mais complexa e difícil, mas menos simplista e mais fiel ao que possa ter acontecido. Mas quem tem tal capacidade de análise? Ou a quem interessa a verdade se a polêmica vende e diverte muito mais?

É claro que não vou me arriscar a fazer tal análise, já que desconheço a maioria das variáveis que influenciaram no resultado, que parecem ir desde a ideia inicial da CBF ao chamar Dunga para dirigir a Seleção, passando, dentre outros inúmeros fatores, pela sua forma de entender o futebol, a composição da equipe e as variáveis não controláveis da própria competição, uma aparente tendência a erros a favor de determinadas seleções patrocinadas pela Adidas, sobretudo a Alemanha (e aqui vai puramente uma ilação minha, mas da qual nao abro mão). Minha proposta aqui é somente levantar uma – e só uma – condição que me parece factual, baseado puramente em sentimento pessoal e observações: este Seleção não empolgou o torcedor!

Embora a Seleção tenha feito uma campanha irrepreensível nos jogos antes da Copa, a Seleção que foi para a África do Sul contava com o olhar desconfiado e o nariz torcido do país. Parece haver duas as razões básicas para isso: 1. a maciça campanha da imprensa contra Dunga e alguns jogadores constantes da lista elaborada por ele e a ausência de outros que a grande maioria entendia que deveria estar nela e 2. a insistência (ou teimosia) do treinador com nomes, no mínimo questionáveis, e seu permanente estado de animosidade e mau humor, estimulando ainda mais seus críticos.

Não é possível saber se alguma mudança em um ou ambos os fatores iria alterar o resultado da Seleção Brasileira na competição, mas uma coisa eu tenho convicção: o Brasil iria vibrar mais e torcer mais durante as vitórias, choraria muito mais a derrota e receberíamos os jogadores, mesmo derrotados, com o respeito de quem era, efetivamente, representante da vontade de uma nação, tal como ocorreu na Argentina (e eles levaram uma goleada, diferentemente do Brasil).

Perder faz parte de jogar. E todos nós aceitamos e aceitaríamos isso. O que temos dificuldade em aceitar é que nossa representação não tenha conseguido refletir nossas aspirações e desejos. Faltou Brasil na seleção. Tivemos uma seleção de jogadores, não de brasileiros. E esta Seleção voltou ao Brasil na mesma condição que saiu: sem o brilho que faria os nossos olhos brilharem.

Eu juro que queria ter ficado mais triste.

sexta-feira, 7 de maio de 2010

Consciência acima da política

No vídeo abaixo, Cézar Schirmer, do PMDB, Prefeito de Santa Maria, faz um discurso empolgado sobre as ações da Governadora Yeda Crusius na cerimônia de assinatura de início das obras do Hospital Regional de Santa Maria no dia 16 de março.

Schirmer, por "obrigação de dever de cidadão", afirma que "a Governadora Yeda Crusius está fazendo por Santa Maria o que nenhum governo fez nos últimos 20 anos".

É bom ver que acima das pecuínhas partidárias e das disputas mesquinhas pelo poder, existe um sentimento de gratidão da parte de políticos importantes, como o prefeito de Santa Maria, pelo esforço que a Governadora fez para sanar as finanças públicas e recuperar a capacidade de investimento do Rio Grande do Sul, devolvendo a dignidade a um Estado que outrora exibiu com orgulho o título de melhor Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) e qualidade de vida do país, mas que por incapacidade administrativa e falta de investimentos públicos nas áreas de competência (ou incompetência?) governamental nos últimos governos, principalmente em infraestrutura, saneamento, segurança, educaçãoe e saúde, jogou o Estado para um vergonhoso quinto lugar.

Mesmo contra a radical, massiva e incansável campanha do PT para desestruturar o governo e destruir a imagem da Governadora, Yeda se manteve firme em sua convicções. Com a personalidade de mulher aguerrida e guerreira que lhe é peculiar, seu inabalável senso de responsabilidade pública e sua incontestável capacidade administrativa, suportou e superou as pressões de uma oposição ácida e corrosiva e as mentiras sistematizadas de um partido que ajudou a produzir e delegar uma maldita herança de dívidas e défits, mas que na oposição assume a postura de baluarte da moralidade, da dignidade e da competência, como se tivessem a mesma capacidade de fazer como têm de discursar e destruir.

O fato é que o discurso de Schirmer representa o resultado e a afirmação de um governo que deu certo porque foi conduzido por uma mulher que teve mais coragem, mais determinação e mais competência que a soma de todos os caudilhos que lhe antecederam. Santa Maria é só um exemplo. Existem centenas de outros espalhados pelo Rio Grande. Só não vem quem não quer.


Víde produzido por Glauber Giovani Licker Rios, Vice-Presidente da JPSDB-SM
http://jpsdb-sm.blogspot.com


quarta-feira, 28 de abril de 2010

Nunca Rui Barbosa foi tão atual

"De tanto ver triunfar as nulidades,
de tanto ver prosperar a desonra,
de tanto ver crescer a injustiça,
de tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus,
o homem chega a desanimar da virtude,
a rir-se da honra, a ter vergonha de ser honesto"


Rui Barbosa. Senado Federal, RJ. Obras Completas v. 41, t. 3, 1914, p. 86

quarta-feira, 31 de março de 2010

Era uma vez um tal de Adão...

Uma vez, havia muito tempo (tanto que ninguém jamais descobriu quando foi), existia um lindo lugar chamado “Paraíso”. Lá havia tudo o que era preciso para se viver bem e feliz (exceto telefone celular e internet). Neste lugar (que igualmente ninguém jamais descobriu onde era) vivia perambulando um sujeito entediado chamado Adão. Mesmo tendo todas as mordomias que o mundo podia oferecer na época, sem ser político, Adão vivia triste e deprimido. Não tinha ânimo sequer para colocar alguma roupa e andava sempre nu, embora más línguas afirmem, de fonte segura, que ele gostava de se fantasiar com uma folha de figueira (o que não deve passar de intriga, pois jamais se encontrou uma testemunha ocular do fato).

Um dia qualquer Adão, de saco cheio daquele lugar perfeito e da vidinha enfadonha, pediu ao criador e dono do Paraíso - que muitos garantem tinha poderes sobrenaturais - que arrumasse alguém para lhe fazer companhia, pois não aguentava mais ficar sozinho falando com a cobra, a qual vivia insistindo para que comesse uma tal de maçã, produzida em Vacaria. O Criador, como ficou conhecido, mais tarde, o dono do Paraíso, vendo a tristeza do Adão, seu único filho até então (milhares de anos depois teria outro, que igualmente não teria um final feliz), resolveu atender seu pedido. Embora tenha feito Adão de barro (Adão é o mais antigo ancestral de Pinóquio, que com o avanço da tecnologia pode ser feito de madeira), o Criador resolveu inovar e inventou o que mais tarde ficou conhecido como “cirurgia”: extraiu uma costela de Adão e, fazendo o que ciência não conseguiu até hoje, mesmo com a decodificação do DNA e o descobrimento das células-tronco, utilizou-a para criar um novo ser: a (maravilhosa) mulher!

Sem imaginar, nem de longe, o que a mulher faria no futuro, o Criador apresentou-a para Adão. Quando ele viu a obra do Criador, ainda zonzo e enjoado pelo efeito da anestesia, não entendeu direito o porquê daquelas “diferenças”. Porém, assim que o Criador explicou-lhe a sua intenção ao criar a mulher, os olhos de Adão brilharam e ele não pode disfarçar um sorriso maroto. Adão ficou tão impressionado com este novo ser que a idéia de somente ter uma companhia para conversar estendeu-se para passeios sob o luar e jantares à luz de velas (o que era feito porque no Paraíso não havia energia elétrica, mas que deu tão certo com Adão que se tornou um ritual de sedução que sobreviveu ao tempo). Adão começou a chamar a mulher de Eva (alguns afirmam que este nome significa Entidade de Valor Altíssimo) e tornaram-se tão íntimos que em pouco tempo um já estava usando a folha de figueira do outro, trocando escovas de dente, desodorante, essas coisas. Tanta intimidade levou Eva a influenciar fortemente as decisões de Adão. Foi assim que Adão fez a única coisa que o Criador disse que ele jamais poderia fazer: comer a maça que Eva queria insistentemente lhe dar. Eva, encantada pela habilidade da cobra, tentava de todas as formas seduzir e convencer Adão a comer a sua maçã e cometer o tal “pecado original” sobre o qual o Criador havia falado. Adão, utilizando-se te todas as forças de sua alma, mantinha-se irredutível, passando incólume pela provação que lhe impusera o Criador.

Em uma linda noite primaveril. Eva estava inspiradíssima, exalando estrógeno por todos os poros. Escolheu de seu guardarroupa uma diminuta folha de parreira que havia colhido recentemente e guardado para uma ocasião especial, passou em todo o corpo um hidratante a base de óleo de amêndoas, gérmen de trigo e mamão-papaia, reforçado com elastina e colágeno, colocou um perfume de jasmim (único na época, já que a França ainda não existia) e, após passar um cintilante batom vermelho da Helena Rubenstein (esta sim é da época), pensou: “Hoje ele não escapa!”. E partiu com sua maçã em busca de seu consorte.

Eva encontrou Adão cortando lenha para acender o fogo e preparar o jantar. Ela, usando de toda sua sedução, segurou Adão pela mão e o conduziu até uma clareira na floresta, iluminada pelo luar, cujo solo estava coberta por pequenas flores coloridas e perfumadas. Permanentemente encantado pela beleza da maçã de Eva e pela exuberante sensualidade de sua dona, Adão quase já não mais controlava o desejo de comê-la, mas ante a determinação do Criador, resistia bravamente aos seus instintos. Mas neste dia todos os limites foram rompidos. Eva estava exuberantemente linda. Nosso correto ancestral não resistiu à tentação e, embriagado pelo desejo, caiu de boca na maçã. Adão, então, tornou-se o primeiro homem a fazer o que não devia, seduzido por uma mulher. Uma característica do comportamento masculino começara ali a ser criada...

No momento em que Adão, já babando de vontade, deu a primeira mordidinha na maçã, segura pelas delicadas mãos de Eva, ouviu-se um pequeno gemido, digo, um grande trovão. O céu tornou-se turbulento quando nuvens acinzentadas e negras se agitavam e misturavam rapidamente, raios rasgavam a noite, que se tornara escura e gélida com o vento que começava a soprar, e mais trovões faziam a terra tremer. Repentinamente uma delas se abre em raios de luz tão intensos que ofusca os jovens mancebos. Aparece, então, o criador, vestindo pantufa imitando joaninha e pijama de pelúcia com estampas do Harry Potter, o que demonstrava já estar pronto para o descanso divino. Com sua voz retumbante e em um tom que demonstrava o controle exercido sobre sua ira naquele momento, disse:
- Adão, meu filho, sei que foste feito de barro e não tiveste mãe. Eu, porém, fiz de tudo para que fosses feliz. Dei-te o Paraíso e tudo o que existe de melhor nele. Até a mulher eu criei para ti e, principalmente, jamais necessitou trabalhar para ter todas as benesses que a terra produz. Tiveste tudo ao alcance da mão, sem que nenhum esforço necessitasse despender. Somente um único pedido fiz eu em troca: que não comesses a maçã. Tu, porém, não foste capaz de me obedecer a este único e singelo pedido. Portanto meu filho, serei obrigado a impor-lhe o mais rigoroso dos castigos. Para sobreviveres, terás que ganhar o alimento com o suor do teu rosto. Não mais viverás no Paraíso. Terás, Adão, que “trabalhar”!

Ao ouvir esta palavra, adão ajoelhou-se em prantos e suplicou ao Criador que não lhe impusesse tamanha pena. Que seu pecado se justificava pela irresistível beleza de Eva. Que a cobra lhe torturava, fazendo-se sempre presente em seus encontros com ela. Que o Criador havia lhe imposto um teste rigoroso demais, dando-lhe como companhia um ser fisicamente tão perfeito, mas com uma capacidade imensa de manipular-lhe os valores. O Criador, entretanto, foi irredutível e expulsou definitivamente Adão do Paraíso. E, não bastando, obrigou-lhe a levar consigo e sustentar com seu trabalho também a mulher.

Adão não havia percebido, naquele momento, que lhe obrigar a levar junto a mulher, que lhe havia causado aquele irrecuperável prejuízo, ao contrário de mais um castigo, era uma compensação dada pelo Criador por lhe ter imposto tamanho sacrifício. A mulher, por duas virtudes características, viria a ser a grande força para que Adão pudesse sobreviver naquela selva na qual fora jogado pelo criador.

No início, Adão até achava que era ele quem detinha o poder na relação, mas descobriu mais tarde o quanto estava errado. A mulher tornara-se tão forte e importante que, ao longo da história, os descendentes de Adão tentaram, de todas as formas, fazer-lhe um ser menor, submisso. Mas, mesmo que aparentemente tenham conseguido, a mulher sempre demonstrou seu verdadeiro valor. Felizmente hoje, na maioria das civilizações, a mulher livrou-se dos grilhões opressores da sociedade patriarcal e machista e liberou geral, mostrando, a cada dia, quem manda de verdade nesta m... de planeta!

Mas o que aconteceu depois?

Adão teve filhos, que tiveram mais filhos que tiveram mais filhos (felizmente incesto não era crime nem pecado naquela época) e contou-lhes a sua história. Seus filhos contaram aos seus netos, que contaram aos seus filhos que... contaram para todo mundo. E hoje, todos acham que o trabalho é castigo, é punição. Exceto os orientais, que nunca ouviram falar neste tal de Adão e sua formação religiosa e filosófica lhes ensina, diferentemente da nossa, que trabalho, ao contrário de ser um castigo divino, é uma dádiva de Deus. Dádiva que, no conceito oriental, dá ao homem dignidade, valor e respeito por si próprio. Por isso não conseguimos entender porque os orientes sentem-se felizes por trabalharem por toda a vida, dezoito horas por dia e, ignorantes quanto ao real significado e valor do trabalho, acreditamos que os melhores dias do ano são as férias e feriados. Não buscamos no trabalho a felicidade. Não consideramos o trabalho um prazer. Somos tão estúpidos que nos torturamos em um trabalho que não queremos fazer, durante as oito melhores horas do nosso dia, pelos trinta melhores anos de nossa vida. Fazemos o que não gostamos, que não nos dá prazer, acreditando que seremos felizes quando nos aposentarmos com o salário do INSS. Este pensamento e atitude, rotineira na vida da maioria das pessoas, só faz aflorar o que a cultura ocidental realmente valoriza: nosso incontestável apego ao ócio.

E por tudo o que aconteceu, desconfio que o Paraíso ficava onde viria ser o Brasil e que Adão e Eva foram os primeiros ancestrais dos brasileiros...

P.S. A origem latina da palavra trabalho é TRIPALIUM: instrumento de tortura da idade média que arrancava as vísceras do torturado.

quarta-feira, 3 de março de 2010

Separação

Embora precisasse ir, eu não conseguia – ou ainda não queria – me mover. Algo ainda me mantinha imóvel e em silêncio à sua frente. E de nada adiantaria dizer alguma coisa. Chegara o momento de partir. E definitivamente. Existem momentos em que não há como pedir para ficar. Pedidos podem alimentar os desejos, mas quando a partida se torna inevitável, as palavras ficam vagas. E nosso tempo passou...

Eu estava em pé. Ela estava sentada à minha frente. Os cotovelos apoiados nos joelhos sustentavam o rosto mergulhado nas mãos. Soluçava. Por vezes gemia como sentisse uma angústia de quase dor. Gemia baixinho esta angústia, externada pelo som que vinha mais da alma que do corpo. E voltava a soluçar. Olhei-a com ternura. Sabia que, neste momento, nossos sentimentos eram completamente diferentes. Podia somente imaginar o que ela sentia. Quase via sua dor. Mas sabia de sua força. Sempre admirei a maneira como ela enfrentava a vida. Era melhor do que eu nisso. Muito melhor. E por isso o sentimento de pena, dentre todos os que poderia ter naquele momento, era um dos que não teria. Não. Pena não. Sabia que todo sentimento, por mais dolorido, por quanto sofrido fosse, passaria com o tempo e que ela saberia encontrar o centro da vida novamente. Eu sabia que esta dor deixaria uma cicatriz profunda. Uma marca que sempre estaria ali, presente. Mas, afinal, já temos tantas produzidas pelas experiências que ao longo da vida definiram o quanto vivemos, o que aprendemos e que nos tornaram o que somos. E não são as mais doloridas, as mais sofridas, que marcam mais nossa curta passagem por aqui? E ela sempre foi assim. Sempre soube se reencontrar após nossos desencontrontos. Sempre soube se superar como forma de superar as crises que viveu. Sempre soube achar seu eixo. Ela era assim. De repente erguia a cabeça, limpava o rosto e assumia tudo o que tivesse que rescaldar. E, afinal, o tempo se encarregaria de transformar a saudade dolorida em lembranças ocasionais, reavivadas em fotos de família revistas em alguma limpeza ocasional dos armários, em uma mudança de endereço quando fossem eliminados os excessos da vida antiga, ou na visita de quem tenha algo a relembrar em um passando conjunto. Ou, quem sabe ainda, vez por outra, quando a solidão brindar com a saudade uma tarde fria de inverno, ajudar o vinho e um CD com a nossa música a tratar com perfeição dor da ausência. Mas o tempo sempre sabe como fazer. Nos tira constantemente o que nos falta viver, mas é por vezes é um amigo que vai nos alivando a alma. Assim é o tempo...

Ela levantou o rosto, recostou-se no sofá, cruzou as pernas mantendo as mãos entre elas, deitou levemente a cabeça em direção ao ombro e me olhou. Uma lágrima correu pelo lado de sua face. Parecia estar mais serena, ainda que demonstrasse uma mistura de dor e carinho no olhar. Sabia que entre nós não haveria mais palavras. Ficariam para sempre as que já foram ditas, mas somente elas.

E chegava definitivamente a hora de partir. Percebi isso quando ela, em sobressalto, levou as mãos à boca para reter o grito de dor, transformado em um gemido apertado e dolorido após o médico desligar o desfibrilador. O sinal contínuo do monitor cardíaco anunciava o que eu já sabia ser inevitável. Mesmo assim olhei para trás, por sobre o ombro, e senti um misto de frustração e alívio. Embora estivesse me sentindo leve, não diria feliz, mas em paz, as massagens incessantes no peito, oxigênio bombeado artificialmente e choques me incomodavam. Sei que é necessário, mas não é o que gostaríamos de ver ao deixarmos este mundo. Pior é o esforço inútil alimentando a esperança nos olhos de quem amamos, mas que por saber inútil, não a tê-la mais em nós mesmos. O médico olhou para ela e sacudiu a cabeça levemente, em um não tão silencioso quanto definitivo, e que ecoou na sala como um grito reproduzido por ela com um gemido abafado. Senti, por fim, alívio. Eu precisava ir.

Olhei novamente para meu corpo deitado sobre a cama. Não era mais eu. Era um corpo inerte, frio e triste. Tudo estava triste. Embora nada modificasse a paz que eu estava sentindo.

Antes de a enfermeira cobrir meu corpo com o lençol, ela levantou e caminhou até ele. Deu um beijo na testa. Enxugou as últimas lágrimas da face com a parte interna de ambas as mãos. Ergueu a cabeça e respirou fundo. Seu rosto voltou a ter a serenidade de sempre. Ela era assim. Sabia enfrentar muito melhor a vida do que eu. E eu, definitivamente, precisava ir...