segunda-feira, 22 de junho de 2009

O Triplo Filtro de Sócrates

Na antiga Grécia, Sócrates tornou-se famoso por sua sabedoria e pelo grande respeito que manifestava por todos. Um certo dia, veio ao encontro do filósofo um homem, seu conhecido, e lhe disse:
- Sabes o que eu ouvi sobre um amigo teu?
- Espera um pouco - respondeu Sócrates. Antes que de me digas qualquer coisa, quero que passes por um pequeno exame. Eu o chamo de triplo filtro.
- Triplo filtro? - supreende-se o homem.
- Isso mesmo - continuou Sócrates. Antes de me falares sobre o meu amigo, pode ser um boa idéia filtrares três vezes o que me vais dizer. É por isso que o chamo o exame de triplo filtro.
Com a concordância do homem, Sócrates falou:
- O primeiro é o filtro da VERDADE. Estás absolutamente seguro de que aquilo que me vais dizer é verdade?
- Não - disse o homem. Realmente eu só ouvi falar sobre isso.
- Bem - disse Sócrates - Então, na realidade, não sabes se é verdade ou é mentira. Agora, então, deixa-me aplicar o segundo filtro, o filtro da BONDADE. O que me vais dizer sobre o meu amigo é uma coisa boa?
- Não. Pelo contrário...
- Então, queres dizer-me uma coisa ruim sobre meu amigo e não estás seguro de que seja verdadeira. Mas posso ainda ouvir-te, porque falta um filtro, o filtro da UTILIDADE. Vai servir-me para alguma coisa saber aquilo que me vais dizer sobre ele?
- Não. Na verdade, penso que não...
- Bem - concluiu Sócrates. Se o que me queres dizer pode nem sequer ser verdadeiro, não é algo bom e nem me é útil, por que razão eu iria querer saber?

Sócrates viveu na Grécia entre 469 a 399 a.C. e tenho a convicção que a maioria das coisas que falamos acerca de alguém não passaria - talvez em nenhum - dos filtros de Sócrates. É impressionante como aprendemos e evoluímos tanto tecnologicamente, mas tão pouco sobre as questões éticas e morais desde então, mesmo que já tenhamos suficientes exemplos de como deveríamos nos comportar para respeitarmos mínimamente os valores requeridos por uma sociedade que queremos que nos respeite.

quinta-feira, 18 de junho de 2009

Que país é este?

Agora, falando sério, que país é este?
Quanto mais nós, os mundialmente famosos – mais pela bunda que pela cabeça – habitantes deste gigante deitado eternamente em berço esplêndido, (in)dignamente comandado por uma casta de dirigentes irreparavelmente à margem da sociedade comum e mortal composta pelos atordoados e impassíveis pagadores de impostos (embora seja do sangue destes esta horda se alimenta) e cuja maioria, como nunca antes na história, oscila entre a semi-intelectualização e a obsessão-compulsiva pelo uso privado e pessoal dos recursos públicos, tendo como principal representante e referência de aprovação popular um Presidente semi-alfabetizado, o qual confere ao país a oficialização e valorização da ignorância e do desrespeito pelo conhecimento e o desprezo pela língua-pátria, derivada da ausência de um mínimo de qualificação intelectual e formação cultural, que deveria ser requisito fundamental para dirigir os rumos de um povo (mas também que povo!), mais eu concordo com Charles de Gaulle quando disse, em 1963, que "Le Brésil n’est pas um pays sérieux". Realmente não sei quando – e se – vamos inverter a curva da hipocrisia e do proselitismo imbecilizado da horda dirigente e dos membros dos poderes constituídos, para uma mínima perspectiva de racionalidade sócio-política, já que, de fato, quanto mais o tempo passa, parece que menos sério ficamos.
Será que peguei pesado? Então vejamos:
1. O Supremo Tribunal Federal acaba de definir, para o efusivo aplauso dos donos do quarto poder, que agora podem contratar qualquer imbecil para inventar as informações que nós, os idiotas, vamos comprar como verdades, já que para ser jornalista não é necessário... ser jornalista! Que maravilha! Estou à espera que o Supremo (Supremo! Que termo para um local intocável de pessoas intocáveis) adjudique que para ser médico não seja mais necessário ter diploma de medicina, aí vou curar Gripe Aviária com aspirina e ficar rico!
Ora, se já convivemos com a informação manipulada ao bel prazer dos detentores dos veículos de comunicação que, pasmem, aceitam (e até exigem) que se derive o dinheiro público para a remuneração “adequada” ao valor de seu trabalho “jornalístico” de informar el pueblo sobre as ações dos poderes públicos, cujo resultado reelegem ou destrói os dententores de cargos públicos (eu, paticularmente, não acredito que a imprensa “séria” manipule informações conforme seu interesse econômico. Isso é intriga da imprensa “marrom”), imagina quando estas informações forem produzidas por pessoas que sequer tem qualificação profissional para tal, sem jamais ter tido uma formação que lhes atribua ética profissional, capacidade de discernimento, conhecimento da língua, ou outras tantas das inúmeras disciplinas que dão o mínimo necessário de habilitação para embasar o exercício de uma atividade que vai formar o senso crítico da sociedade brasileira, que se já é de tão combalida e deprimente, ao que parece, irá nos reservar um futuro ainda menos promissor.
Isso tem uma explicação? Claro que tem. Não há diferença nenhuma (nenhuma!) na cultura e nos valores dos homens que dirigem os rumos deste país, independente dos poderes aos quais pertençam, já que, por exemplo, para ser Ministro do Supremo é necessário ser amigo dos presidentes, pois são indicações políticas. Para ser Ministro de Estado ou Secretário de Governo, basta ser influente em um partido político que compõe a “base” (ideologia? Ta brincando!) ou amigo do Presidente, Governador ou Prefeito. Competência administrativa? Formação técnica? Ética? Capacidade intelectual? Isso é para o mundo privado, que precisa ser eficiente e eficaz no uso de seus recursos para poder pagar a cada vez mais cara conta da bandalheira política que virou o país tomado dos índios por Cabral e desmoralizado pela corrupta cultura católico-portuguesa.
2. Esta é para me “derrubar os butiás do bolso”. O etílico e semi-alfabetizado Governante-Mor da República de Ingana (impostos da Inglaterra e serviços de Gana), ex-quase-pseudo-revolucionário-demago-trotskista (sim, quase, porque todos os que realmente tinham uma ideologia e coragem para combater o regime cancerígeno que corroeu por décadas passadas e futuras a evolução política desta republiqueta neo-portuguesa ou morreram ou se exilaram) diz que o Presidente do (pomposo, inútil e absurdamente caro) Senado da República não pode ser criticado por que “ele tem uma história no Brasil suficiente para que não seja tratado como se fosse uma pessoa comum" e insinua que há tentativa de "enfraquecer o Legislativo". Será que o nosso erudito presidente esqueceu-se do item I do Artigo 5º da Constituição Federal – a mesma que jurou defender – a qual diz que “homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações, nos termos desta Constituição” e que, portanto, não importa se tem um ou um milhão de anos de história? Não deveria, sob a égide constitucional tão bem interpretada e defendida pelo STF como vimos anteriormente, o Exmo. Sr. Presidente do Senado, cuja existência é fundamental para eu pagar as contas do supermercado, ser tratado da mesma forma que um idiota como eu, que pago os impostos para sustentar esta casta, sou tratado? Claro que não. A história del pueblo brasileño é uma históra de pagar, não de receber.
Pior, mas não menos surpreendente, o Exmo. Sr. Comandante-Mor desta republiqueta de quinta que chamamos de país afirmou que embora pense que o "Presidente" Sarney (do selo pedágio e da hiper-inflação) tem história no Brasil suficiente para que não seja tratado como se fosse uma pessoa comum (e tem mesmo, já que as pessoas comuns não tem condições de se tornarem milionários às custas do herário),"não leu a reportagem". Que não leu a reportagem nosso querido viajante não precisava ter dito, já que afirmou que não lê jornais (e mesmo que quisesse, não poderia, já que os jornais brasileiros são publicados no Brasil, onde invariavelmente nosso querido revolucionário de esquerda raramente se encontra, demorando algum tempo para chegar a maioria dos países, tempo que invariavelmente nosso querido revolucionário de esquerda permanece antes de continuar sua saga turística).
É inacreditável! O Presidente Lula defende a “história” de sua excelência José Sarney. José Sarney! Talvez o maior representante das impiedosas oligarquias que o PT sempre odiou e jurou combater (antigamente, já que o poder desmancha a ideologias e unifica os homens enquanto os fatores que proporcionam a manutenção de tal poder for compartilhado). E, ainda, diz o Imortal Senador - e no que concorda o digno e perfeito representante da maioria (quase 80%) dos - iludidos - brasileiros (como é bom ser minoria em alguns casos) – que “estamos conspirando contra ele!”. Eu, agora, além de idiota, virei conspirador. EMbora, de fato, de conspiração o Presidente do Senado entende, já que foi um dos principais conspiradores para derruba a democracia.
Luz no fim do túnel? Eu não vejo. Porque para cada Yeda Crusius existem dezenas de Stella Farias. Para cada Fernando Henrique Cardoso, existem dezenas de Luiz Inácio Lula da Silva. Para cada José Serra, para cada Aécio Neves, existem dezenas de José Sarney e Renan Calheiros. Para cada João Gilberto Luxas Coelho existem dezenas de Ivar Pavan, Ervino Bohn Gaas e Dionísio Marcon. Para cada político competente, íntegro, que briga para melhorar a condição pública, existem dezenas dos que, quanto não estão gastando sua energia e usando os recursos públicos para destruir tudo e todos os que não fazem parte de sua laia para, como abutres que são, se alimentar da podridão que sobra, estão fazendo algum esquema para transferir os escassos recursos públicos, que deveriam estar nos hospitais, na segurança pública, na infraestrutura e na educação, para castelos, apartamentos na Europa, fazendas (como as do Lulinha em Goiás) e contas no exterior.
Meu Deus! Que país é este?

quinta-feira, 4 de junho de 2009

Política e cidadania

Antes de se entender o que é política é preciso se entender o que é cidadania. E antes de se entender o conceito de cidadania é preciso que se entenda o que é ser cidadão, já que parece óbvio perceber que a cidadania é a qualidade ou estado de "ser" cidadão. O cidadão é o indivíduo que possui a capacidade de gozar os direitos civis e políticos de um Estado (o qual eu entendo que pode ser definido pelas condições particulares, sejam políticas, sociais, geográficas, legais, culturais, etc, que delimitam e definem um "povo"), bem como desempenha seus deveres e cumpri suas responsabilidades (muitas vezes implícitas) para com ele. Ora, se o cidadão é quem exerce os direitos e cumpre seus deveres para com o Estado, cidadania pode ser entendida como o arcabouço destes deveres, direitos e liberdades (entenda-se aqui liberdade como possibilidades) relacionadas a fatores políticos, sociais e econômicos estabelecidos pela legislação ou pelo uso e aceitação coletiva que dá ao indivíduo a condição de participar da vida social e do governo de seu povo. Quem não possui cidadania está marginalizado, excluído das relações sociais e das decisões, ficando a margem ou numa posição de inferioridade dentro do grupo social. O "exercício" da cidadania se dá, então, pela busca em fazer valer esses direitos garantidos e estabelecidos. Exercer a cidadania, portanto, é buscar que os direitos individuais e coletivos sejam observados, zelando para que não sejam desrespeitados.
Entendido o que cidadania, o que é política? A palavra política, embora possa ser de fácil entendimento pela nossa percepção, não é fácil conceituar e caracterizar o termo em uma noção definitiva, já que a "ação" política ocorre em todos os momentos e situações da nossa vida. Estamos fazendo política quando organizamos um churrasco, conversamos numa mesa de bar, quando auxiliamos uma obra social ou cobramos o funcionamento de algo que compramos, bem como fazemos política quando fazemos uma passeata contra a guerra ou pelas garantia dos direitos individuais ou fazemos ato simples como votar. Portanto fazer política não é uma particularidade dos políticos, mas do cidadão no exercício pleno e autêntico de sua liberdade. Parece-me, então e a priori, que a política tem como objetivo a busca e a garantia da liberdade.
Tendo em vista que o homem não é autárquico e, portanto, depende das relações sociais para sua sobrevivência, e levando em conta a pluralidade destas relações e ideologias, são necessários mecanismos que possam organizar socialmente os indivíduos, regulando e harmonizando o convívio dos diferentes (e não dos iguais) a fim de buscar garantir a todos o pleno exercício da cidadania anteriormente definido. E essa é a função primordial da política, seja ela um mecanismo de Estado (por ex. uma lei aprovada pelo Congresso ou a utilização de radares para controlar a velocidade limite nas rodovias) seja um mecanismo individual (reclamação sobre um buraco aberto na sua rua ou a participação em uma passeata contra a guerra).
Baseado nisso, política me parece o instrumento (social e individual) mais importante na busca de garantir a vida, em seu sentido mais amplo, e a felicidade dos indivíduos na sua convivência social, a partir utilização de mecanismos reguladores (externos ao indivíduo) e auto-reguladores (decisões pessoais) que estabelecem as condições de aplicação das liberdades individuais, favorecendo o exercício da cidadania. O entendimento disso por parte dos políticas e seu exercício com ética é outra história...